
*Texto escrito pelo professor Júlio Cesar Mafra
A transferência de habilidades se dá quando praticantes de determinadas modalidades acabam incorporando elementos de uma ou mais modalidades diferentes à sua prática, normalmente através de intercâmbio direto ou recebendo de maneira “filtrada” por um professor, instrutor ou mesmo colega de prática.
O Shuaijiao é uma modalidade de Wrestling, e como tal, temos vários estilos com similaridades técnicas. Tendo alguma experiência em outras formas de luta agarrada (Judô, Wrestling Olímpico, Submission e outras técnicas de grappling), vou discorrer sobre os prós e contras dessas fusões.
Vou usar como parâmetro também minha presença na China, mais especificamente como aluno do mestre Ma Jianguo e do professor Marcelo Antunes em duas competições: uma na região autônoma da Mongólia Interior, na região administrativa de Xilingole, e outra na província de Shangxi, na cidade de Daixian, em 2016 e 2019 respectivamente. Fomos convidados (o professor Marcelo e eu) pelo Mestre Ma Jianguo para acompanhar essas competições durante o período de nossa estadia na China. Também conhecemos o trabalho da equipe de Shuaijiao de Beijing que se preparavam para a competição em Daixian.
Para começar, vale observar o excelente nível técnico dos atletas e das equipes envolvidas, bem como a grande organização dos dois eventos, tudo com um padrão muito alto de qualidade, facilitando a vida dos profissionais e atletas envolvidos, além do andamento das competições.
Sobre as competições, alguns atletas possuíam técnicas incorporadas de outras modalidades, mas, vi predominantemente muita da especificidade e linguagem corporal preservadas, bem como a eficácia das técnicas e do jogo em ambas competições. Vale citar que como em qualquer evento, em alguns casos não estava tão clara essa depuração técnica, o uso excessivo de força e estratégias pouco eficazes deixavam a desejar no aproveitamento das lutas dentro da perspectiva da especificidade do shuaijiao.
No primeiro caso, vemos atletas em idade universitária com bases na modalidade bem consolidadas: cheguei a identificar a origem de alguma técnica incorporada ao jogo de diferentes atletas, porém, nada que interferisse no desenvolvimento do jogo desenvolvido na competição.
No segundo evento equivalente à infanto-juvenil e juvenil, a transferência de técnicas de outras modalidades também era visível, mas, sem a mesma qualidade. Vale lembrar que falo especificamente do aspecto da transferência, pois, no geral as lutas foram muito boas e os atletas de altíssimo nível dentro das suas respectivas idades e categorias.
Esse intercâmbio em modalidades de grappling é natural, e também temos o caso de praticantes de outras artes marciais que não possuem tal especialidade, a fim de refinar essas habilidades. Outro aspecto do Intercâmbio é o processo de formação do Shuaijiao no Brasil, desenvolvimento em termos de escolas, formação de professores e atletas, sendo que muitos desses praticantes têm origem em outras modalidades e se dividem em mais de uma prática, seja como aluno ou professor/instrutor .
Especificamente falando do Shuaijiao, o intercâmbio pode ser benéfico, desde que se apliquem todos os meios e ferramentas para utilização dos fundamentos através da prática do Tushou Jibengong e suas variações, que levam a um refinamento do Jiaoban (projeções), bem como preservação da sua linguagem corporal, convertendo tais esforços em desempenho prático no tatame como lutador/técnico ou na academia como professor.